Erótica e Trágica: a relação entre Lorca e Dalí

Conheça a relação enigmática de Frederico García Lorca e Salvador Dalí

Quando o assunto é arte espanhola, é difícil não lembrar de Salvador Dalí. Figura única e de bigode inconfundível, Dalí é um dos nomes mais conhecidos do surrealismo. Suas pinturas são marcadas pela qualidade técnica utilizada para misturar elementos desencontrados, flertando com o bizarro.

Nascido na Catalunha, Dalí mudou-se com dezoito anos para Madri, a fim de estudar arte. Foi lá que conheceu Federico García Lorca. Ambos moravam na “Residencia de Estudiantes”, importante espaço de reunião de mentes criativas em um período efervescente da vida cultural espanhola. Na “Residencia de Estudiantes”, também vivia o cineasta Luis Buñuel e alguns escritores que formariam a “Geração de 27”. Lorca e Dalí logo estabeleceram um vínculo profundo. Cartas recentemente reveladas mostram que a relação entre eles era bastante íntima. Em uma delas, Dalí diz a Lorca: “Você é uma tempestade cristã que precisa do meu paganismo. Eu vou te dar a cura para o mar. Será inverno e vamos acender o fogo”.

A proximidade entre eles era tanta, que algumas pessoas suspeitam que havia algo além de amizade. Dalí, no entanto, deixou claro que ele não permitiu que a relação avançasse, apesar da atração que Lorca tinha por ele e das insinuações que fazia. Essa diferença de interesses contribuiu para o afastamento de ambos. Dalí, muitos anos depois, descreveria essa relação como “um amor erótico e trágico, pelo fato de não poder compartilhá-lo”.

O ápice da amizade duraria dois anos, de 1925 a 1927. Em 1928, Dalí e Lorca começaram a se afastar. Alguns desentendimentos, especialmente a partir da aproximação entre Dalí e Luis Buñuel, esfriaram a relação. Apesar disso, Dalí e Lorca jamais romperam seu vínculo. Permaneceram amigos, ainda que sem o ímpeto dos primeiros anos.

Quando Lorca foi executado, Dalí lamentou-se por não ter insistido para que ele saísse da Espanha. A lembrança dessa amizade nunca o abandonou. Em seus últimos dias, a única frase inteligível que Dalí repetia era “Meu amigo Lorca”.

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