— Oh! Virgílio, tu és aquela fonte
Donde em rio caudal brota a eloquência?
Falei, curvando vergonhoso a fronte. Ó dos poetas lustre, honra, eminência!
Valham-me o longo estudo, o amor profundo
Com que em teu livro procurei ciência! És meu mestre, o modelo sem segundo;
Unicamente és tu que hás-me ensinado;
O belo estilo que honra-me no mundo.
(Inferno I, 79-87)
Com estes versos, Dante Alighieri louvou o poeta Virgílio na Divina Comédia. A imagem empregada pelo florentino a Públio Virgílio Maro (70-19 a.C.) está longe de ser apenas uma convenção, ao chamá-lo de “rio caudal donde brota a eloquência” (“eloquência” era, então, um termo empregado de modo comumente para descrever o Belo). Virgílio foi o mestre de muitos gênios literários.
Conheça alguns dos gigantes da Literatura Ocidental que se declararam discípulos do genial mantuano:
Ovídio (43 a.C. – 18 d.C.)
O poeta romano, da geração mais jovem, seguinte à de Virgílio, não deixou de sofrer influência do mantuano, como por exemplo nas Metamorfoses. Ao contrário de Virgílio, porém, que gozou do beneplácito de Augusto, Ovídio caiu em desgraça com o imperador, e morreu exilado no território da atual Romênia (um cafundó na época).
Santo Agostinho (354-430)
Na juventude pagã, Agostinho de Hipona venerou Virgílio, sobretudo a Eneida, que foi um dos pilares de sua educação. A influência virgiliana se manteve vida afora, e, nas Confissões, Agostinho comparou-se, em seu progresso moral, ao herói Eneias em suas andanças e provações rumo à fundação de Roma.
Torquato Tasso (1544-1595)
Em sua obra magistral Jerusalém Libertada, publicada em 1581, o poeta italiano traçou um paralelo intencional entre o herói da epopeia renascentista, Godefroi de Buillon, e Eneias: ao invés do itinerário de Troia a Roma, o caminho da França à libertação de Jerusalém.
Dante Alighieri (1265-1321)
Virgílio foi o guia de Dante no Inferno e no Purgatório da Divina Comédia, completada em 1320, um ano antes da morte de Dante Alighieri. Enviado por ordens de Beatriz ao auxílio de Dante, Virgílio é chamado de “meu guia” pelo florentino. Na obra, Virgílio personifica a sabedoria clássica e o bom conselho.
Luís de Camões (1524-1580)
Na composição d’Os Lusíadas (1572), Camões emulou os clássicos da Antiguidade grega e latina, sobretudo Homero e Virgílio. Enquanto, porém, na Eneida (o modelo mais evidente de épico camoniano) o enaltecimento é feito ao heroi Eneias, n’Os Lusíadas, ao contrário, quem é louvado é o valoroso povo português.
William Shakespeare (1564-1616)
O Bardo também não escapou da influência do poeta mantuano. Pouco sabe-se, é verdade, da biografia do genial dramaturgo inglês, mas com bom grau de certeza Shakespeare leu Virgílio em latim, nos bancos escolares. A influência da Antiguidade Clássica em suas peças se dá por via de Virgílio e Ovídio, sobretudo, em temas e motivos recorrentes.
John Milton (1608-1674)
O principal modelo literário do poeta protestante inglês na composição de Paraíso Perdido é a Eneida. A construção da obra miltoniana se dá sob o paralelo entre o personagem principal do poema, Satã, e o heroi virgiliano, Eneias.
Hermann Broch (1886-1951)
Considerado um dos maiores romancistas do século XX, comparado a James Joyce pela insubordinação no uso da linguagem e pelo experimentalismo, o enredo de sua obra-prima, A Morte de Virgílio (1945) se passa no nascimento do Império Romano e retrata as últimas horas do autor da Eneida.