José Saramago (1922 – 2010), por ocasião do aniversário de 400 anos da publicação de DOM QUIXOTE, foi convidado pelo jornal Folha de São Paulo e pelo Fórum Social Mundial a tecer algumas considerações sobre o romance.
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Para o escritor português, ao contrário da abordagem mais popular do clássico cervantino, Alonso Quijano não era idealista ou louco, mas simplesmente um homem farto da vida que levava.
O leitor percebe logo que ‘aquilo’ é com ele, o que move o Quixote é o mesmo que nos move a nós, o querer ser outra pessoa, o querer estar em outro lugar
José Saramago
Alonso não podia, como nós hoje podemos, mudar sua vida de maneira tão radical sem apresentar eloquentes justificativas. Dada esta limitação imposta pelo seu pequeno vilarejo, a melhor solução encontrada foi dizer-se e agir como louco, condição que lhe dava liberdade para fazer o que bem entendesse sem enfrentar juízos tão severos.
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Para Saramago, Quixote tinha uma falsa loucura, que foi por ele abandonada nos seus dias derradeiros, quando enfim regressou ao seu lar, ao seu antigo nome e à humilde razão humana com a qual todos temos que conviver.