Na língua portuguesa, as duas palavras podem apontar aquilo que possui uma cor vermelha muito viva.
Ao escolher ‘encarnada’, o tradutor atentou-se para um possível trocadilho no título original.
Scar, primeira sílaba de scarlet, significa cicatriz, e assim associa a punição de Hester a um castigo que ultrapassa as vestes e deixa marcas em sua pele — e em sua alma.
Se Pessoa optasse por escarlate, o adjetivo se limitaria a indicar a cor da letra funesta, e perderíamos já no título uma parte da riqueza estilística de Nathaniel Hawthorne.
Encarnada, por sua vez, indica a um só tempo a cor avermelhada e aquilo que se entranha na carne, como no título original.
Esta escolha inusitada, que contraria a maioria das traduções, é sinal da perspicácia de Fernando Pessoa e de seu zelo pelo clássico que traduziu.