Preparamos para o leitor um breve giro pela literatura de língua inglesa. Buscamos selecionar os autores de vulto dos mais diversos gêneros literários, desde o épico anônimo de Beowulf até autores que publicaram depois da Segunda Guerra, como George Orwell.
Houvemos por bem dar especial ênfase a dois autores, um da prosa e outro da poesia: Dickens e Shakespeare. O primeiro gozou, e ainda goza, de uma popularidade sem par, sendo um dos romancistas mais traduzidos e lidos da história. O segundo dispensa apresentações, trata-se talvez do maior poeta do ocidente moderno.
A literatura inglesa através dos séculos
Origens e Idade Média
Seria difícil, como já observaram alguns autores, apontar com precisão o “ano zero” da literatura inglesa; existem várias teorias a respeito (alguns chegam a considerar Chaucer o primeiro autor verdadeiramente inglês). Para o canon do inglês antigo, considera-se, via de regra, Widsith como o mais antigo documento literário.
Com efeito, dividem-se os períodos literários ingleses segundo a forma do idioma: old english (inglês antigo, ou anglo-saxão) vai das origens até, aproximadamente, 1150; o middle english (inglês médio) até 1500, e daí para diante o modern english (inglês moderno). Em termos históricos, o que marca a passagem do segundo para o terceiro período é a Reforma e o Renascimento.
O latim foi substituído pelos dialetos germânicos; esses deram origem ao inglês antigo e daí ao inglês médio para finalmente desembocar no que hoje chamamos simplesmente Inglês.
É preciso lembrar que a Inglaterra foi colonizada não poucas vezes. Desde as “origens” romanas, temos, em sequência, a invasão de anglos, saxões e jutos no século V, a invasão dos vikings a partir do século IX, e finalmente de parte da aristocracia francesa, com Guilherme o Conquistador, em 1066.
Além disso, toda a literatura em inglês antigo que nos chegou até hoje devemo-la aos monges copistas trabalhando entre os séculos VII e o XI. A cristianização da Inglaterra anglo-saxã teve lugar em 597, ano em que o monge Agostinho chegou de Roma para converter os jutos e fundar a abadia de Canterbury. Ao mesmo tempo, a Irlanda, já cristã, enviava missionário para os Anglos e Saxões. O alfabeto romano foi importado a par do cristianismo, tomando o lugar das runas germânicas e da escrita celta ogham.
O alfabeto dos primeiros escritos em inglês antigo é, substancialmente, o latino, dos monges irlandeses, com a presença de algumas runas fonéticas a representar sons do inglês antigo.
Nesse contexto, a primeira obra a se destacar é Beowulf, poema anônimo escrito talvez no século VIII de pouco mais de três mil versos livres (apenas um décimo da totalidade do canon da literatura inglesa antiga chegou até nós). Trata-se do primeiro a ser escrito numa língua vernacular europeia e que está preservado em sua integralidade.
O poema celebra, por trás de um véu de alegorias, as virtudes da casta guerreira, cujo modo de vida, ainda que incompletamente, é retratado na obra. Toma emprestado elementos da mitologia e da religião germânicas, mas pode-se dizer que são cristianizados.
Enquanto Itália, França e Alemanha achavam-se ainda fragmentados, sem uma língua individual, a Inglaterra já desenvolvia sua personalidade, sua língua e uma variada produção literária.
A próxima etapa a destacar é a influência da França, a partir da metade do século XI.
Desde 1042, Eduardo, o Confessor, vinha trazendo normandos para a corte britânica. Em 1066, Guilherme, o Conquistador, invade a Inglaterra e se torna seu primeiro rei normando (William I).
Entre 1362 e 1393, a Inglaterra testemunhou uma verdadeira explosão de criatividade: Piers the Plowman, Confessio Amantis, de Gower, e a obra inteira de Geoffrey Chaucer, um dos grandes poetas de língua inglesa, dão testemunho disso. À essa época, a distinção entre normando e inglês havia se apagado de todo, embora o povo inglês ainda não fosse completamente homogêneo.
Chaucer (1342/43-1400), filho das cortes, culto e cosmopolita, escolheu o inglês vernacular como seu meio de expressão. Até esse momento, não havia um inglês padrão: nem modelos nem mestres consumados.
Sua obra mais significativa, The Canterbury Tales (Contos da Cantuária), escrita durante a última década do século XIV, é uma coleção de histórias representativas do variado quadro social da época – toda a Inglaterra se acha ali espelhada. Poema que emprega vários gêneros: alegoria, fábula de animais, romance cortês, sermão medieval, lendas religiosas, etc.
Assim nos encaminhamos para o fim do chamado período médio do inglês, e o dialeto literário londrino vai aos poucos se impondo ao conjunto do país, separando-se do dialeto escocês e outros dialetos do norte. A essa altura, muitas palavras novas, tomadas ao latim e ao francês, haviam se incorporado na língua inglesa.
Renascimento e Restauração
O Renascimento chegou tarde à Inglaterra. As casas de York e Lancaster, à conta da guerra, estavam praticamente extintas. Os Tudors ascendem ao trono e, com eles, uma nova era tem início.
Época conturbada, do nascimento da imprensa e da Reforma Protestante, mas que, no entanto, é rica em produção literária.
A era Elizabetana, que durou de 1558 a 1603, viu nascer a superioridade militar britânica a partir da derrota da armada espanhola em 1588. Período em que o teatro teve um desenvolvimento formidável, sobretudo à conta de Shakespeare e Marlowe, tornando-se verdadeiramente popular.
Na poesia, destacamos John Donne (1572-1631), prosador e poeta notável. Homem de contrastes, de uma parte seus poemas mundanos celebram os prazeres e a alegria; de outra, os poemas religiosos revelam um humanista cristão preocupado com a mortalidade humana e com a submissão do homem a Deus.
O drama inglês deita suas raízes nas “miracle plays” medievais, que tinham por objetivo instruir e inspirar o fiel católico, através de exemplos de santidade e do miraculoso. Aos poucos, a piedade e o sacro ali retratados cederam lugar à mera moralidade – são as “morality plays”, peças teatrais que não apelam ao espírito, ao sagrado; elas têm na moral e no exemplo de conduta o seu princípio e fim, os quais buscam retratar por meio de alegorias.
O clero, nesse contexto, deixou de recorrer ao teatro como ferramenta de conversão e aprofundamento da fé — ele acabou por cair em mãos profanas. Aos poucos as peças foram ficando cada vez mais distantes dos temas religiosos.
Christopher Marlowe (1564-1593), poeta e dramaturgo contemporâneo de Shakespeare, influenciou grandemente os poetas de veia mais dramática do século XVI.
As peças teatrais de Marlowe tipificam certas atitudes próprias do Renascimento: humanismo, individualismo e a nova ciência. Suas obras mais destacadas são Doctor Faustus e The Jew of Malta (O Judeu de Malta).
A eclipsar todos os demais autores da época e da posteridade, o período viu nascer e florescer o maior gênio da literatura inglesa, e um dos maiores gênios da literatura mundial: William Shakespeare (1564-1616), nascido numa próspera família de classe média radicada em Stratford-on-Avon.
Recebeu pouca educação formal; ao que tudo indica, teve de complementar as lições de gramática com muitas leituras. Antes do final da década de 1580, já estava bem estabelecido em Londres, como ator e escritor. Em 1599, tornou-se acionista do recém-construído Globe Theater. Esta e outras fontes de renda fizeram do nosso escritor um homem de posses.
Século XVIII — Razão e ironia
O teatro teve uma ascensão meteórica, mas uma queda igualmente rápida. Em 1642, os teatros foram fechados pelos Puritanos, pondo um fim ao “teatro elisabetano”, a era de ouro da dramaturgia inglesa.
Se bem que a glória do teatro elizabetano já viesse em decadência quando da ascensão dos Puritanos, foi só após a Restauração (1660) que o teatro atingiu os níveis mais decadentes. A comédia da Restauração é conhecida por seu apelo ao sexual. Carpeaux observa que “a Restauração dos Stuarts […] identificou ingenuamente os seus próprios costumes licenciosos com o ‘reino das ciências e das artes’”.
A Revolução de 1688, que baniu o último rei da linhagem dos Stuarts e convocou Guilherme de Orange ao trono, marca o fim da longa batalha pela liberdade política na Inglaterra.
A primeira metade do século XVII é de rápido desenvolvimento social, com a superação de certos padrões medievais que ainda persistem. Tinham de aprender a conviver numa sociedade em que diferentes opiniões circulavam.
Se até aqui a poesia havia sido a “glória da literatura inglesa”, no dizer de Matthew Arnold, agora a prosa emergia triunfante. Uma multidão de interesses de ordem prática aparecia no cenário a partir da nova ordem social e política e reclamava a aplicação da razão e sua expressão em prosa: livros, revistas, jornais, panfletos.
Os ensaios de Addison, a sátira de Swift, os romances de Fielding, a eloquência de Gibbon, o estilo de Burke, tudo isso não encontrava paralelo na poesia da época. O período, como um todo, é conhecido como Clássico, ou Era da Rainha Ana.
A sátira agora prevalece, em virtude da união entre política e literatura.
Alexander Pope (1688-1744) foi figura de proa da primeira metade do século, época que ficou conhecida como “a era de Pope”. O poeta inventou, satirizou, criticou e reformou quase todos os gêneros e convenções do verso inglês do século XVIII.
Tornando à prosa, temos em Jonathan Swift (1667-1745) a figura de proa da sátira em língua inglesa. O seu Viagens de Gulliver (1726) é descrito, alternativamente, ou como um ataque contra a humanidade ou como um exame realista, a olho nu, das fraquezas e virtudes humanas.
É, contudo, Daniel Defoe (1660-1731) que talvez possa ser considerado o pai do romance e do moderno jornalismo inglês. Seus romances combinam elementos autobiográficos, alegóricos e realistas para formar o que veio a ser algumas das primeiras narrativas realistas da ficção inglesa. Foi também pioneiro do jornalismo investigativo e das colunas de fofocas.
Romantismo
Entre a segunda metade do reino de George III e a ascensão da Rainha Vitória em 1837, o mundo testemunhou uma série de eventos que tiveram um impacto profundo sobre a humanidade: Revolução Francesa, invenção da máquina a vapor, ascensão do Império Inglês, Revolução Industrial.
Enquanto Dryden, Pope e Johnson ditavam os rumos das letras inglesas, um novo movimento, que viria a ser conhecido como Romantismo, se formava já em 1730 com The Seasons, de Thomson.
O romantismo aí buscava expressar a vida tal como vista pela imaginação, e não pelo “bom senso” prosaico, pela crítica, pela razão, que eram elementos centrais na filosofia iluminista da Inglaterra do século XVIII.
Seis características o distinguiam da era clássica: reação contra a ditadura da tradição; retorno à natureza, em contraste com o classicismo que se mantinha trancafiado em salões e clubes; reavivamento da noção de era de ouro; sentimento intenso de simpatia pelo humano; expressão do gênio individual e não de regras estabelecidas; não havia uma diretriz central a ser seguida.
Spenser, Shakespeare e Milton foram inspiradores diretos do romantismo inglês.
Samuel Taylor Coleridge via a imaginação como a qualidade poética por excelência, uma força quase divina que faz do poeta um semi-deus.
William Wordsworth (1770-1850) desafiou as convenções formais da poética do século XVIII, afetando profundamente o curso da poesia moderna. Em seu The Prelude, estudou o papel da imaginação e da memória na formação da sensibilidade poética. Análise psicológica profunda e crítica social.
Se a primeira geração de românticos é formada por poetas como Wordsworth, Coleridge, Blake, a geração seguinte tem em Lord Byron (1788-1824) uma de suas figuras mais proeminentes. À conta de sua poesia e da vida pessoal, era a personificação mesma do poeta-herói romântico.
Os românticos em geral, e Keats em particular, entendiam que as convenções do século passado eram totalmente inaptas para expressar suas percepções.
A poesia de Percy Bysshe Shelley (1792-1822), em sua primeira fase, voltava-se para a política e para a reforma social. Depois de seu período da Itália, aprofundou seu conhecimento de arte e literatura e, incapaz de moldar o mundo segundo seus ideais, concentrou-se em fazê-los presentes nos poemas.
Populares entre a década de 1760 e a de 1820 foram os romances góticos. Entre as obras mais conhecidas, destacamos O Castelo de Otranto (1764) de Horace Walpole. São contos de mistério e horror, com inúmeros elementos do sobrenatural.
É de Mary Shelley (1797-1851) talvez o romance mais conhecido do estilo: Frankenstein, com seu protagonista atormentado – o antepassado remoto de todos filmes de terror e ficção científica.
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Era Vitoriana
Com a ascensão da Rainha Vitória ao Trono em 1837 e seu reino subsequente, quatro elementos da cultura e da sociedade inglesa se cristalizam: o regime democrático, com a consequente perda de poder da nobreza; a educação popular universal, era de paz relativa; por último, característico da Era Vitoriana foi o desenvolvimento acelarado das ciências e da mecânica.
Em termos literários, trata-se de uma época sobretudo de prosa. Como o público leitor crescera formidavelmente à conta da educação popular, também é a era do jornalismo, da revista e do romance moderno (que fazia as vezes de entretenimento das massas). Ademais, a produção artística parecia se afastar de ideia de arte pela arte e adquirir tons moralizantes: Tennyson, Browning, Carlyle, Ruskin são verdadeiros mestres do povo inglês.
Alfred Lord Tennyson resgatou em parte a dignidade do Poeta Oficial, porque sua poesia articulava todo o espírito de uma geração.
Mas é na prosa que temos os maiores vultos do período, entre os quais Charles Dickens, considerado por muitos o maior romancista inglês, de extrema popularidade.
Jane Austen, embora tenha passado despercebida em sua época, é hoje celebrada por seus romances-comédia a respeito do amor e dos costumes. Suas histórias, passeadas de homens e mulheres da classe-média britânica, estão cheias de humor e de críticas sociais a refletir a respeito do papel da mulher na vida da sociedade inglesa. Atenciosa aos detalhes, criadora de personagens inesquecíveis, tudo isso fez dela uma das preferidas do público.
Outra autora de vulto é George Eliot (1819-1880). São características suas o tratamento realista dos personagens, enredos desenvolvidos com maestria, sob o pano de fundo da Inglaterra rural, o emprego de metáforas científicas. Eliot era próxima de Herbert Spencer e outros “filósofos científicos”, que acabaram por exercer grande influência sobre ela, influência esta, observe-se, contrabalançada pelos valores da vida rural e da criação protestante. Daí o seu “realismo psicológico”. Middlemarch é sua obra-prima.
Não poderíamos deixar de mencionar, também, a Thomas Hardy (1840-1928). Romancista, poeta, dramaturgo, sua obra é o elo entre a era vitoriana e a modernidade. Nela, revelam-se as constrições impostas pela industrialização e urbanização sobre a vida tradicional inglesa. Leitor dos românticos, mas também dos clássicos gregos, cujo lema era “não se pode dizer, de alguém, que é feliz enquanto ainda vive”.
Fechando esse período fecundo da prosa inglesa, não poderíamos deixar de mencionar Arthur Conan Doyle (1859-1930), o popularizador das histórias de detetive e criador do inesquecível Sherlock Holmes, seguindo nisto a senda aberta por Edgar Allan Poe e seu C. Auguste Dupin, e Wilkin Collies (The Moonstone, 1868). Também foi influenciado por Bleak House, de Dickens. Sherlock se guiava não só pelo raciocínio lógico e pela dedução, mas também pela imaginação: “uma vez eliminado o impossível, o que restar deve ser a verdade”.
Modernismo e além
Tratou-se de uma revolução na poesia e na empresa literária como um todo, resumido numa série de manifestos. Eis aí a “revolução modernista do século XX”.
O movimento reagiu contra os excessos do romantismo tardio. Ezra Pound e outros buscaram seus modelos na poesia lírica antiga chinesa, japonesa e grega.
Fratura, fragmentação, ruptura das sequências temporais, um despojar-se das antigas formas e atitudes: todos esses sinais de uma época moderna foram amplificados pela Grande Guerra.
É de T. S. Eliot o texto central do reportório modernista: The Wasteland, publicado em 1922, é um amontoado de imagens partidas, uma coleção de fragmentos, verdadeira Babel de vozes individuais do pós-guerra.
Na prosa, Virginia Woolf (1882-1941) é uma das figuras de proa do século XX. Inovadora, por ter se revoltado contra as estruturas narrativas tradicionais, criou para si um estilo altamente individualizado. Valeu-se da técnica do “fluxo de consciência” para explorar a vida interior de seus personagens. Exemplo dessa técnica encontramos sobretudo em Mrs Dalloway (1925).
Um dos mais celebrados autores do período é o romancista irlandês James Joyce (1882-1941). Suas obras redefiniram as formas da moderna ficção. Ulysses, sua obra-prima, aparece em 1922, mesmo ano The Wasteland e de Duino Elegies, de Rilke.
Os autores desse período caracterizavam-se pela recusa das instituições tradicionais, pela fé no indivíduo, e por um grande experimentalismo estilístico.
George Orwell adquiriu fama definitiva com suas duas últimas obras de ficção, Animal Farm (1945) e 1984 (1948), as quais tornaram-se grandemente influentes nos campos da fantasia e da ficção científica. O autor se fundou na conturbada cena política europeia das décadas de 30 e 40.
O romance 1984 retrata uma sociedade distópica, isto é, que se opõe à concepção de uma sociedade utópica ou paradisíaca. Entre suas influências destacamos When the Sleeper Wakes (1899), the H. G. Wells e We (1924), da pena do escritor russo Evgeny Zamyatin.
Dois autores gigantes da literatura inglesa
William Shakespeare
O maior expoente da literatura inglesa e, com razão, considerado um dos maiores artistas da história, sua obra bebe de diversas fontes literárias e têm um escopo humano com o qual é difícil de ombrear.
Homem de extraordinários talentos linguísticos — criador de imagens poéticas altamente complexas, metáforas, trocadilhos— a par de uma capacidade penetrante de desvelar os meandros da natureza humana.
Ao longo dos séculos suas obras exerceram uma influência sem precedentes e obtiveram um reconhecimento de público e crítica sem paralelo.
Shakespeare se apropriou de diversos elementos estilísticos: classicismo romano (comédia tal como definida por Plauto e Terêncio, e tragédia tal como definida por Sêneca), peças morais da idade média, farsa popular francesa, drama italiano etc.
Pelo perfeito domínio do idioma foi capaz de “recriar” a língua inglesa (o inglês moderno); expressões suas e imagens poéticas se consolidaram na linguagem e no imaginário popular.
Suas primeiras obras, as três partes do ciclo histórico de Henrique VI, foram representadas entre 1589 e 1591. Entre as primeiras comédias estão A Megera Domada (1593-1594), Penas de Amor Perdidas (1594-1595); comédias “românticas” incluem Sonho de Uma Noite de Verão (1595-1596), O Mercador de Veneza (1596-1597) e Noite de Reis (1601-1602).
Há ainda suas comédias “sombrias”, como Bem Está o Que Bem Acaba (1602-1603) e Medida por Medida (1604), A Tempestade (1611). Trata-se de obras de tom mais sóbrio, e que põem ênfase em temas como separação e perda, jornada e reconciliação.
Suas peças históricas são comumente classificadas em duas tetralogias: as três partes de Henrique VI e Ricardo III (1592-1593); Ricardo II (1595), as duas partes de Henrique IV (1596-1598) e Henrique V (1599).
Talvez suas obras mais conhecidas sejam as tragédias: Romeu e Julieta (1595-1596), Hamlet (1600-1601), Othello (1604), Rei Lear (1605), Macbeth (1606).
Além da obra dramatúrgica, Shakespeare escreveu 154 sonetos e alguns poemas narrativos.
Charles Dickens (1812-1870)
Dickens teve uma infância pobre e sofrida; se viu obrigado a trabalhar para ajudar no sustento de uma família indolente. Tais experiências se tornaram o fundamento de suas descrições comoventes de crianças sofredoras, que impactaram tantos leitores.
Com a publicação, em 1836, de sua obra Pickwick, sua vida mudou para sempre. Vieram-lhe a fama e o dinheiro; Dickens ficou conhecido como um dos heróis literários da Inglaterra, ídolo de um público imenso. Embora a época tendesse para o realismo e não para o romantismo, foi justamente ao se valer do absurdo e ao empregar caricaturas no lugar de personagens que Dickens adquiriu tamanha popularidade.
Como funcionário de um escritório de advocacia, conheceu uma faceta inusitada da vida humana. Aí aprendeu a compreender tanto os inimigos quanto as vítimas da sociedade.
À força de uma imaginação poderosa, transformava incidentes triviais em boas histórias. Autor de uma sensibilidade extremada que só encontrava alívio no riso e no choro. Sentimental em relação às crianças; desculpava o indivíduo à conta dos erros da sociedade; era dramático e até melodramático.
De sua obra escrita destacam-se os romances (escreveu ao todo, quatorze), através dos quais o autor dá vazão às suas preocupações de ordem social e seu talento para criar personagens inesquecíveis (talvez Scrooge seja o mais notável entre eles).
Sua morte reverberou para além da Europa: Longfellow, poeta americano, disse que nunca havia visto a morte de um autor causar tanta comoção. Carlyle observou que sua morte teve repercussões mundiais: era um talento sem par que se extinguia. O London Daily News assim o descreveu: “Foi o romancista de sua época”.
Entre as obras de Dickens, destacamos Oliver Twist, Grandes Esperanças, David Copperfield, Um Conto de Natal.
Lista de autores fundamentais da literatura inglesa
Geoffrey Chaucer (c. 1343-1400) — Primeiro poeta maior da Inglaterra, “a estrela da manhã da poesia”, como Tennyson lhe chamou. Originalidade da língua (inglês médio), de estilo, humor, civilidade são razões por que permanece relevante até hoje. Os Contos da Cantuária.
William Shakespeare (1564-1616) — O maior nome da literatura inglesa. Tomou elementos da literatura clássica para criar formas distintamente inglesas de poesia e teatro. Sua habilidade em transformar a ação e as características humanas em arte criou um mundo de personagens inesquecíveis. Sua influência aumentou com o passar do tempo.
John Milton (1608-1674) — Poeta, filósofo, moralista, valeu-se tanto da prosa quanto da poesia para tratar de assuntos políticos e religiosos.
Jane Austen (1775-1817) — Romancista da classe média alta, da pequena nobreza rural inglesa. Sua obra se situa entre o melodrama do século XVIII e o realismo do século XIX. Comédia de costumes. Ainda hoje uma favorita do público. Entre suas obras, destacamos Orgulho e Preconceito.
Leia mais sobre Jane Austen.
Mary Shelley (1797-1851) — Escreveu o que muitos consideram a primeira obra de ficção científica (e uma das mais influentes): Frankenstein (1818). Alçou-se acima do gênero gótico e terror, sendo reconhecida como uma obra de profundidade psicológica e filosófica.
Charlotte Brontë (1816-1855) — A par de suas irmãs Anne e Emily, contribuiu significativamente para a literatura do século XIX. Seu romance Jane Eyre fez tremendo sucesso à época da publicação, e até hoje é muito apreciado. Emily é hoje primariamente reconhecida à conta de seu romance Wuthering Heights (O Morro dos Ventos Uivantes), que atraiu gerações de leitores e críticos. Anne destacou-se como romancista e poetisa.
Charles Dickens (1812-1870) — Um dos maiores escritores vitorianos, e talvez de toda a literatura inglesa. Sua incrível vivacidade e originalidade, sua capacidade assombrosa de criar personagens marcantes compensam a tendência, que aparece aqui e ali, de caricaturar. Escreveu inúmeras histórias que se incorporaram ao imaginário popular, como por exemplo David Copperfield e Um Conto de Natal.
Thomas Hardy (1840-1920) — Romancista, poeta, contista, dramaturgo. Predominam na sua obra temas como o embate de homens e mulheres frente às ironias do destino. Obras mais importantes: Tess dos D’Urbervilles, Judas, o Obscuro.
Arthur Conan Doyle (1859-1930) — Mais conhecido como o criador do detetive amador Sherlock Holmes.
Oscar Wilde (1845-1900) — Poeta, dramaturgo, ensaísta, romancista e contista associado a esteticismo. Famoso por suas tiradas espirituosas. Suas peças, que pertencem à tradição da comédia de costumes, alcançaram grande sucesso. Obras de nota: O Retrato de Dorian Gray (1890), The Importance of Being Earnest (1895).
Virginia Woolf (1882-1941) — Associada ao desenvolvimento da técnica de fluxo de consciência. Trata-se de uma das romancistas experimentais mais importantes do século XX – expoente do modernismo. Obras de nota incluem Mrs Dalloway e To the Lighthouse.
George Orwell (Eric Arthur Blair, 1903-1950) — De estilo claro e conciso, nunca empregando mais palavras do que o necessário para veicular o que buscava dizer, destacou-se na defesa do indivíduo frente aos regimes totalitários de massa. Suas obras mais conhecidas são 1984 e Animal Farm.
Obras indispensáveis da literatura inglesa
Beowulf — Poema épico escrito em inglês antigo ou anglo-saxão. Marca o início da literatura inglesa. Articula elementos mitológicos com forte influência cristã.
The Canterbury Tales — Obra-prima do terceiro período de Geoffrey Chaucer, o poema pretende representar toda a sociedade inglesa através de um grupo de personagens das mais variadas origens, em que cada classe social narra suas histórias favoritas.
Hamlet, Macbeth, Otelo, A Tempestade — William Shakespeare. De Shakespeare quase tudo é indispensável, mas sobretudo as tragédias.
A Tempestade, uma das últimas obras do autor, é sua comédia mais perfeita e bem acabada. Nela, o feiticeiro Próspero, que havia sido traído por seu próprio irmão, Antonio, e expulso de Milão, faz a comitiva deste, que se tornara Duque de Milão ao usurpar o trono a Próspero, naufragar numa ilha onde são submetidos a testes e provações até a reconciliação final.
Hamlet é uma tragédia em cinco atos escrita entre 1599 e 1601. Considerado por muitos como o maior drama já escrito, a obra conta a história do Príncipe da Dinamarca e seus conflitos após o assassinato de seu pai e o segundo casamento de sua mãe.

Macbeth é a tragédia mais breve de Shakespeare. Ela conta a história da corrupção da alma do general Macbeth, seduzido pela perspectiva “profética” de usurpar o trono da Escócia.
Tragédia escrita entre 1603 e 1604, Otelo é a história de um general mouro a serviço de Veneza acima de qualquer suspeita que, casado com Desdêmona, uma mulher branca da nobreza, tem a alma envenenada pelas mentiras e intrigas de Iago.
Paraíso Perdido — John Milton.
A obra obteve sucesso imediato. Poesia de uma imagética sublime, verso harmônico, sob um pano de fundo cósmico (o céu, o inferno, o vazio ilimitado entre os dois) que não encontra paralelo na literatura.

Orgulho e Preconceito — Jane Austen.
Trata-se do romance mais popular da autora.
Ainda que o nascimento do romance inglês tenha sido na primeira metade do século 18, é com Jane Austen que o gênero adquire suas qualidades particularmente modernas com o estudo de pessoas normais, em situações normais do cotidiano.
Segundo romance da autora, a história centra-se no romance entre Elizabeth Bennet, filha de um ‘gentleman’ do interior da Inglaterra e Fitzwilliam Darcy, rico aristocrata e terratenente.
O pano de fundo é a Inglaterra rural, mais especificamente Hertfordshire e Derbyshire, na virada do século XVIII para o século XIX. Elizabeth, “Lizzy”, a heroína, é inteligente e espirituosa, compartilhando com seu pai certo desgosto pelas convenções sociais, o que causa um conflito com Darcy, representante da aristocracia.

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Frankenstein — Mary Shelley.
Arquétipo do gênero de ficção científica, suas premissas ilustram como a busca desenfreada de conhecimento científico e técnico pode acabar em desgraça. O enredo conta a vida de Victor Frankenstein, um médico ambicioso que desejava prescindir de Deus e criar a vida humana em laboratório.

Jane Eyre — Charlotte Brontë.
Sucesso imediato de público quando de sua publicação, o romance é uma mistura de vários gêneros, desde o gótico até o realismo de conotações moralizantes. Narra a história da ascensão de uma jovem, desde sua infância na pobreza, até sua redenção.

O Morro dos Ventos Uivantes — Emily Brontë.
História de paixão e vingança que se passa nas regiões pantanosas de Yorkshire. Nela, dois narradores contam a história de Heathcliff jovem órfão adotado pelo sr. Earnshaw e sua relação conturbada com Catherine, a filha de seu pai adotivo.
Oliver Twist, David Copperfield, Grandes Esperanças — Charles Dickens.
Oliver Twist é a história eterna de um órfão que acaba forçado a integrar uma gangue de batedores de carteira, e que no fim encontra redenção. Dickens se vale dos personagens e situações para fazer suas críticas sociais, sem, contudo, sugerir soluções.

David Copperfield é uma obra autobiográfica, romance de formação que examina em retrospectiva a vida do herói, desde a infância até a maturidade. No processo, Dickens nos dá um verdadeiro panorama da Inglaterra vitoriana.
Grandes Esperanças é um dos romances mais populares do autor (entre público e crítica). Ele trata do amadurecimento (“coming of age”) do órfão Pip.
O Retrato de Dorian Gray — Oscar Wilde.
Condenada à época à conta de sua “imoralidade”, a narrativa centra-se em Dorian Gray, belo jovem que adota, de Lord Henry, certa filosofia de vida na qual a busca da beleza através dos prazeres sensoriais está acima dos imperativos éticos.

Confira esta resenha d’O Retrato de Dorian Gray.
Tess of the D’Urbervilles — Thomas Hardy.
Ponto culminante do esforço de Hardy para criar uma tragédia moderna. Na obra, o autor corta os liames entre ética e natureza. A sociedade, a tecnologia e a lei, todas contribuem para a aspereza do “processo cósmico”.
Mrs Dalloway — Virginia Woolf.
A história examina a vida de Clarissa Dalloway num único dia de junho de 1923. Pode-se dizer que se trata de um romance “sem enredo”. A ação tem lugar apenas na consciência dos personagens. A obra trata da natureza do tempo tal como aparece na experiência pessoal.

1984 — George Orwell.
Publicada em 1949, é um alerta contra o totalitarismo. A atmosfera distópica do romance teve um impacto profundo na cultura em geral. Muitos dos conceitos explorados no livro viraram patrimônio cultural comum: o “Grande Irmão”, a “novilíngua” etc.
Por que ler literatura inglesa hoje?
Esse breve apanhado geral mostra as vantagens que tirará o leitor que se dedicar a mergulhar na literatura de língua inglesa e sua variedade imensa de temas e estilos, sua profundidade no tratamento dos temas mais delicados e relevantes, a beleza de suas formas literárias.
Literatura para todos os gostos e estilos, a cultura inglesa tem talvez seu ponto de destaque na poesia. Sua prosa, entretanto, está entre as mais relevantes da cultura ocidental, contando com autores de envergadura universal e entre os mais lidos e publicados da história.